Justiça condena ex-namorado a 37 anos por feminicídio de enfermeira grávida no ES
Mais uma vez, a violência machista ceifa a vida de uma mulher trabalhadora. Cleilton Santana dos Santos, de 30 anos, foi condenado a 37 anos de prisão pelo assassinato brutal da enfermeira Íris Rocha, de 29 anos, que estava grávida de oito meses quando foi executada em janeiro de 2024, em Alfredo Chaves, no Sul do Espírito Santo.
O julgamento, realizado nesta segunda-feira (1º) no Tribunal do Júri da cidade, expôs mais um caso chocante de feminicídio que deixa órfão não apenas o filho de oito anos de Íris, mas também a pequena Rebeca, que nunca chegou a nascer.
Crime bárbaro revela a face mais cruel da violência doméstica
Os detalhes do crime são estarrecedores. Íris foi morta com quatro disparos de arma de fogo, e o assassino ainda jogou cal sobre o corpo da vítima, deixando-a às margens de uma estrada para acelerar a decomposição e dificultar a identificação. Um ato de covardia que demonstra o desprezo pela vida de uma mulher que dedicava seus dias a cuidar de outras pessoas.
A sentença divide a pena em 30 anos pelo feminicídio, cinco anos por aborto sem consentimento da gestante e dois anos por ocultação de cadáver. O juiz Arion Mergár destacou a gravidade das circunstâncias e afirmou que a conduta do réu justificou o aumento da pena-base.
"A culpabilidade do réu é acentuada, pois agiu com extrema frieza e premeditação para a execução do crime, demonstrando um grau de reprovabilidade que extrapola o dolo normal", declarou o magistrado.
Relacionamento marcado pelo terror e controle
O caso de Íris expõe a realidade cruel que muitas mulheres brasileiras enfrentam silenciosamente. Familiares relataram que o relacionamento era marcado por violência e controle. Mesmo grávida, a enfermeira foi vítima de um "mata-leão" e chegou a solicitar medida protetiva.
O comportamento controlador do agressor se estendia até o ambiente acadêmico. Íris, que fazia mestrado em Ciências Fisiológicas na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), chegava a se abaixar ao trocar de sala para não ser vista por Cleilton pela janela, segundo relatos de colegas.
"Uma pessoa meiga, amada, trabalhadora, muito dedicada. Ela ficava cuidando das pessoas e tinha muito orgulho disso", lembrou a mãe de Íris, Márcia Rocha, em depoimento emocionado.
Machismo mata: a dúvida sobre paternidade como pretexto
Segundo a Polícia Civil, Cleilton tinha dúvidas sobre a paternidade da bebê. Contudo, o exame de DNA confirmou que Rebeca era filha dele. Mais uma vez, o machismo e o sentimento de posse sobre o corpo feminino se tornaram motivos para o assassinato.
O assassino confessou o crime durante o julgamento, alegando arrependimento. Mas de que adianta o arrependimento quando duas vidas já foram ceifadas?
Justiça feita, mas a luta continua
Embora a defesa tenha considerado a pena "justa", anunciou recurso buscando redução. Já o Ministério Público pediu aumento da condenação, demonstrando que a sociedade não aceita mais a impunidade nos casos de violência contra a mulher.
Cleilton seguirá preso e será transferido para uma unidade destinada a condenados. Mas quantas outras Íris ainda sofrem em silêncio? Quantas mulheres trabalhadoras, mães, estudantes, ainda vivem sob ameaça de ex-companheiros violentos?
O caso de Íris Rocha nos lembra que a luta contra o feminicídio e a violência doméstica deve ser diária, estrutural e coletiva. Não basta punir após o crime consumado. É preciso prevenir, educar e transformar uma sociedade que ainda naturaliza a violência contra as mulheres.