Chacina de Poção: Justiça condena executores a 101 anos, mas mandante escapa do julgamento
Três homens foram condenados pela brutal execução de conselheiros tutelares e idosa em 2015, mas a verdadeira mandante do crime, uma avó rica que queria a guarda da neta, conseguiu adiar seu julgamento
A madrugada desta quinta-feira (11) trouxe um misto de justiça e revolta para as famílias das vítimas da Chacina de Poção. Após quase dez anos de espera, três dos executores foram finalmente condenados pelo brutal assassinato de três conselheiros tutelares e uma idosa, mortos a tiros numa emboscada covarde em 2015. Mas a verdadeira culpada pelo crime conseguiu, mais uma vez, escapar da Justiça.
Égon Augusto Nunes de Oliveira e Ednaldo Afonso da Silva foram condenados a 101 anos e 4 meses de prisão cada um por homicídio qualificado. Orivaldo Godê de Oliveira, pai de Égon, pegou 12 anos e meio por homicídio simples. As penas pesadas refletem a crueldade de um crime que chocou todo o país.
A mandante milionária que foge da Justiça
Enquanto os peões foram condenados, Bernadete de Lourdes Britto Siqueira Rocha, a avó paterna da criança e suposta mandante intelectual do massacre, conseguiu adiar seu julgamento para fevereiro de 2026. A desculpa? Sua advogada estava de licença-maternidade.
"É sempre assim: os pobres que executam vão para a cadeia, mas quem tem dinheiro para pagar advogado caro sempre encontra um jeito de escapar", desabafa uma fonte próxima ao caso, que prefere não se identificar.
Bernadete teria encomendado o crime numa disputa pela guarda da própria neta. A ganância e o egoísmo de uma mulher custaram a vida de quatro pessoas inocentes que apenas faziam seu trabalho de proteger crianças vulneráveis.
Conselheiros tutelares: heróis esquecidos do povo
As vítimas da chacina eram Carmem Lúcia da Silva, de 38 anos, José Daniel Farias Monteiro, de 31, Lindenberg Nóbrega de Vasconcelos, de 54 anos, e Ana Rita Venâncio, de 62 anos, avó materna da criança.
Esses trabalhadores dedicavam suas vidas à proteção de crianças e adolescentes em situação de risco. Ganhavam pouco, enfrentavam ameaças constantes, mas seguiam firmes na missão de defender os mais vulneráveis. Foram covardemente executados por fazer seu trabalho.
"Os conselheiros tutelares são os verdadeiros guerreiros da proteção infantil no Brasil. Trabalham sem estrutura, com salários baixos, mas nunca desistem de lutar pelas crianças", afirma Maria José Santos, presidente do Sindicato dos Conselheiros Tutelares de Pernambuco.
Crime bárbaro expõe desigualdade na Justiça
O caso da Chacina de Poção é um retrato cruel da desigualdade que permeia o sistema de Justiça brasileiro. Enquanto os executores, homens simples sem recursos, foram rapidamente julgados e condenados, a mandante milionária usa todos os artifícios legais para escapar da punição.
O crime aconteceu no Sítio Cafundó, em Poção, no Agreste pernambucano, na noite de 6 de fevereiro de 2015. Os conselheiros tutelares voltavam da casa de Bernadete com a menina de 3 anos quando foram surpreendidos pela emboscada. Cinco tiros ceifaram quatro vidas. A criança sobreviveu, mas ficou ferida e traumatizada para sempre.
Segundo as investigações, Bernadete também é suspeita de ter envenenado a própria nora, mãe da menina. Uma mulher capaz de matar a família inteira para conseguir o que quer.
Justiça tardia, mas necessária
O julgamento foi realizado no Recife devido ao processo de desaforamento, buscando imparcialidade dos jurados. O júri popular, formado por quatro mulheres e três homens, reconheceu a gravidade do crime ao aplicar as qualificadoras de homicídio por motivo torpe, emboscada e para assegurar a impunidade de outro crime.
Wellington Silvestre dos Santos, outro executor, já havia sido condenado em 2024 a 74 anos de prisão. Agora faltam apenas três réus: além de Bernadete, José Vicente Pereira Cardoso da Silva (ex-diretor de presídio que articulou o crime) e Leandro José da Silva (detento que fez a ponte entre mandante e executores).
"A Justiça pode ser lenta, mas não pode ser cega para a diferença de classe. Esperamos que em 2026 finalmente vejamos a verdadeira culpada pagar por seus crimes", conclui o advogado das famílias das vítimas.
A Chacina de Poção segue como um símbolo da luta desigual entre os defensores dos direitos das crianças e os interesses mesquinhos dos poderosos. Que a memória dos conselheiros tutelares assassinados inspire a continuidade dessa luta por justiça social.