Mofo em casa: como famílias trabalhadoras podem se proteger
O mofo não escolhe classe social, mas as famílias trabalhadoras são as que mais sofrem com esse problema silencioso. Em casas populares, apartamentos pequenos e moradias com pouca ventilação, o fungo encontra terreno fértil para se espalhar, ameaçando a saúde de quem já enfrenta tantas dificuldades no dia a dia.
"Minha filha começou a ter crises de asma depois que o mofo tomou conta do quarto", relata Maria Santos, moradora de um conjunto habitacional na zona leste de São Paulo. "A gente limpa, mas sempre volta. É uma luta constante."
Umidade: o inimigo número um das famílias
O controle da umidade é a principal arma contra o mofo, mas nem sempre está ao alcance de todos. Em casas sem boa ventilação ou apartamentos onde o sol mal entra, a água no ar se acumula rapidamente. Superfícies frias viram alvos constantes para os fungos.
Muitas famílias recorrem a produtos para esconder as manchas, mas especialistas alertam: sem reduzir a umidade, o mofo sempre retorna. Para quem pode investir, desumidificadores elétricos ajudam bastante, retirando água do ar de forma contínua.
Uma alternativa mais barata são os potes com cloreto de cálcio, que absorvem o excesso de vapor em armários e cantos fechados. "É o que a gente consegue fazer com o orçamento apertado", explica João Silva, pedreiro que mora em Cidade Tiradentes.
Ventilação: direito básico que nem todos têm
A ventilação adequada combate o mofo de forma direta, mas nem toda moradia popular foi projetada pensando nisso. O ar parado favorece o crescimento dos fungos, enquanto janelas abertas renovam o ambiente e reduzem o cheiro de umidade.
Em dias secos, abrir portas e janelas por algumas horas já traz efeito visível. A luz solar incide sobre pisos e paredes, reduzindo a umidade. Já em banheiros sem janelas, comuns em habitações populares, a instalação de exaustores melhora muito a circulação.
Para reforçar a ventilação, ventiladores de teto ou de chão movimentam o ar e evitam pontos de condensação. A organização dos móveis também interfere: armários totalmente encostados nas paredes retêm mais umidade.
Limpeza: resistência diária contra o problema
A limpeza regular atua como barreira importante, mas exige dedicação constante das famílias. Manchas recentes saem com mais facilidade, mas com o tempo penetram na superfície e exigem mais esforço.
Para áreas laváveis como azulejos, uma mistura simples de água com detergente neutro remove sujeiras e resíduos. Em seguida, a área precisa secar completamente. Em pontos mais críticos, produtos específicos para mofo atuam com maior rapidez.
Em superfícies delicadas como madeira e couro, um pano levemente umedecido retira o excesso de fungos sem encharcar o material. O descarte imediato de panos usados reduz o espalhamento de esporos.
Organização: aproveitando cada centímetro
Em casas pequenas, comum na realidade das famílias trabalhadoras, a organização se torna ainda mais crucial. Ambientes lotados de objetos acumulam poeira e retêm umidade. Roupas prensadas em armários criam áreas escuras e abafadas.
Alguns hábitos simples ajudam: separar roupas por estação, usar sachês absorventes em gavetas e retirar periodicamente objetos pouco usados. Em regiões costeiras, onde muitas famílias vivem em condições precárias, essa rotina se torna ainda mais importante.
Reparos estruturais: quando o problema vem de cima
Muitas vezes, o mofo revela problemas estruturais que as famílias não têm condições de resolver sozinhas. Infiltrações em paredes e tetos, vazamentos em tubulações mantêm áreas sempre molhadas.
"A prefeitura prometeu arrumar o telhado há dois anos, mas até hoje nada", desabafa Ana Costa, moradora de um conjunto habitacional em Guarulhos. "Enquanto isso, o mofo só cresce e minha família sofre."
Técnicos recomendam inspeção visual detalhada: manchas, bolhas na pintura e reboco solto indicam entrada de água. Nesses casos, o reparo precisa ocorrer antes de qualquer nova pintura.
Uma questão de saúde pública
Com controle da umidade, ventilação constante, limpeza frequente, organização e reparos corretos, o mofo perde espaço. Mas é fundamental que o poder público reconheça isso como questão de saúde pública, garantindo condições dignas de moradia para todas as famílias.
As medidas exigem atenção contínua, mas mantêm os ambientes mais seguros e preservados. Toda família trabalhadora merece viver em um lar saudável, livre da ameaça silenciosa do mofo.