Roubo na Biblioteca Mário de Andrade expõe descaso com patrimônio público
O roubo de 13 obras de arte na Biblioteca Mário de Andrade, no domingo (7), não é apenas um crime contra o patrimônio cultural brasileiro. É o reflexo do abandono sistemático dos equipamentos públicos de cultura, que ficam vulneráveis enquanto o poder público prioriza outros interesses.
Seguro sigiloso enquanto patrimônio do povo é saqueado
Dois homens armados invadiram a biblioteca e levaram oito gravuras de Henri Matisse e cinco de Candido Portinari. O que revolta é descobrir que os valores do seguro são sigilosos por contrato, como admitiu Cauê Alves, curador-chefe do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM).
"Os valores de seguro são sigilosos por contrato. A gente não pode revelar", disse Alves, numa demonstração clara de como a transparência é tratada quando se trata de patrimônio público.
O curador ainda reconheceu que "o seguro é um paliativo" e que "não se pode recuperar um patrimônio desse". Ou seja, obras insubstituíveis da nossa cultura foram perdidas por falta de segurança adequada.
Descaso histórico com a segurança
Esta não é a primeira vez que a Biblioteca Mário de Andrade é alvo de criminosos. Em 2006, doze gravuras raras do século 19 foram roubadas e só foram recuperadas 18 anos depois, em 2024. Um histórico que mostra o descaso crônico com a proteção do nosso patrimônio cultural.
A biblioteca, que é a segunda maior do país e recebeu mais de 207 mil pessoas no ano passado, merecia ter segurança à altura de sua importância. Mas o que vemos é uma vigilante sozinha sendo rendida por bandidos armados.
Obras do povo nas mãos de especuladores
Entre as obras roubadas estão gravuras de Matisse como "O palhaço", "O circo" e "Senhor leal", além de ilustrações de Portinari da obra "Menino de Engenho". São peças que pertencem ao patrimônio cultural brasileiro e que provavelmente acabarão nas mãos de colecionadores privados.
As câmeras do Smart Sampa conseguiram identificar os criminosos, que foram flagrados carregando as obras pela Rua João Adolfo. Mas até agora, nenhuma prisão foi feita.
Prioridades erradas da gestão
Enquanto a prefeitura de São Paulo investe milhões em obras faraônicas e parcerias privadas, equipamentos culturais fundamentais como a Biblioteca Mário de Andrade ficam desprotegidos. É o retrato de uma gestão que não valoriza o acesso democrático à cultura.
A Secretaria de Cultura alega que o local tinha "equipe de vigilância" e "sistema de câmeras", mas os fatos mostram que isso não foi suficiente. Falta investimento sério em segurança para proteger o que é nosso.
Este crime não é apenas contra obras de arte. É um ataque ao direito do povo brasileiro de ter acesso ao seu próprio patrimônio cultural. E enquanto os valores do seguro permanecem em sigilo, o que fica claro é que a transparência e a proteção da cultura pública não são prioridades para quem deveria zelar por elas.