Cultura popular resiste: oficinas gratuitas de palhaçaria transformam Campo Grande em território do riso
Em tempos de ataques constantes à cultura brasileira, a Mostra Pantalhaços prova que a arte do povo não se cala. Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc, o projeto oferece formação gratuita que democratiza o acesso ao conhecimento artístico.
Entre cabarés irreverentes, células cômicas e invenções de palhaço que fazem barulho, choro e até "pum de talco", a IX Mostra Pantalhaços transforma Campo Grande em uma grande sala de experimentação da comicidade. Mais do que entretenimento, é resistência cultural em ação.
O projeto, realizado com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), reúne artistas de várias regiões do país e mantém seu espírito colaborativo com apoio de instituições e escolas da rede pública. Uma prova de que quando o Estado investe em cultura, o povo responde com criatividade e organização.
Quatro oficinas para democratizar a arte
As atividades começam em diferentes pontos culturais da cidade e são voltadas a artistas, estudantes e curiosos que desejam investigar o riso em suas múltiplas linguagens. Cada oficina mergulha em universos diferentes da palhaçaria, do cabaré, da criação de adereços e do malabarismo.
"O riso disruptivo" com Dagmar Bedê
No Circo do Mato, a artista mineira propõe uma oficina que mistura história, corpo e presença cênica. A proposta cria pontes entre a palhaçaria e o cabaré, duas linguagens marcadas pela subversão e pela crítica poética.
"É uma linguagem que sempre foi do povo e para o povo", explica Dagmar. Com abordagem teórico-prática, os participantes vivenciam jogos e improvisações que ajudam a acessar a potência cômica do corpo.
"Que Palhace é esse?" quebra paradigmas
Gabriel Cavalcante e Juarez Dias conduzem uma oficina que investiga identidade, corpo e história pessoal como caminhos para construir comicidade. Entre jogos dançantes e exercícios de escuta, o grupo cria células cômicas que são apresentadas coletivamente.
Malabarismo e traquitanas completam a formação
Vitor Poltronieri ensina técnicas avançadas de malabarismo com claves, enquanto Teófanes Silveira, de Alagoas, convida o público a criar dispositivos cênicos, as famosas traquitanas de palhaço.
"É mão na massa mesmo", conta Teófanes. "Ensinamos a fazer porrote, choro de palhaço, pum de talco. São ferramentas que ampliam a expressão artística e custam pouco para produzir."
Arte como direito, não privilégio
As oficinas fazem parte da programação da IX Pantalhaços, que também inclui espetáculos, intervenções e rodas de conversa em espaços culturais e comunidades. A ideia é aproximar o público do universo do palhaço contemporâneo e renovar a cena circense local.
Em um país onde a cultura sempre foi tratada como supérfluo pelas elites, iniciativas como esta reafirmam o riso como linguagem crítica, poética e profundamente humana. É a prova de que quando o povo tem acesso aos meios de produção cultural, a criatividade explode.
As inscrições para as oficinas podem ser feitas através do site oficial do evento. Todas as atividades são gratuitas, reafirmando o compromisso com a democratização do acesso à cultura.