Da elite do futebol para as ruas: jovem atleta vira vendedor de doces após lesão encerrar sonho
A história de Luan Lino de Sá, de 22 anos, é um retrato cruel da realidade que milhares de jovens brasileiros enfrentam no mundo do futebol. Depois de passar por grandes clubes como Corinthians e Grêmio, uma lesão no joelho mudou completamente os rumos da sua vida, obrigando-o a trocar os gramados pela luta diária nas ruas de Luziânia, no Entorno do Distrito Federal.
O sonho que virou pesadelo
Luan começou a sonhar com o futebol aos cinco anos de idade, em Goiás. Como tantos meninos pobres do Brasil, via no esporte a única chance de mudar de vida. "Sempre sonhei com isso e até certo ponto deu certo", conta o jovem, com a amargura de quem viu o sonho se despedaçar.
No futebol de base, passou por Real Brasília, Corinthians, Grêmio e Capivariano. Um dos momentos mais marcantes foi um gol na Copa São Paulo 2020, quando tinha apenas 16 anos jogando pelo Real Brasília. "Marcou bastante aquele gol que eu fiz na Copa São Paulo, quando eu subi para o profissional do Corinthians", relembra.
A lesão que mudou tudo
Em 2020, quando jogava pelo Grêmio, Luan sofreu uma lesão de LCA (Ligamento Cruzado Anterior) no joelho. Mesmo após cirurgia e fisioterapia, nunca mais foi o mesmo jogador. "Ele fez a cirurgia e tudo, fez exercícios, mas nunca mais conseguiu ser o mesmo", conta Jéssica Oliveira, sua esposa e companheira de luta.
A lesão não apenas encerrou sua carreira, mas também expôs a cruel realidade do futebol brasileiro: quando um atleta se machuca, fica sozinho. Sem amparo, sem perspectiva, Luan teve que reinventar sua vida do zero.
A resistência nas ruas
Longe dos holofotes e do glamour do futebol profissional, Luan encontrou na confeitaria uma forma de sobreviver. Junto com Jéssica, criou a "Cantinho Doce", uma confeitaria online que representa muito mais que um negócio: é símbolo de resistência e dignidade.
"Ela falou que sabia fazer alguns doces e eu sempre fui conversador, né? Aí deu certo! Ela faz os doces aqui e eu saio de bicicleta para vender", explica Luan, que no início saía a pé pelas ruas vendendo os produtos.
Hoje, com alguns motoboys parceiros e uma bicicleta, Luan percorre as ruas todos os dias vendendo brigadeiros, beijinhos e morangos de chocolate. É a prova viva de que o trabalhador brasileiro não desiste, mesmo quando o sistema o abandona.
Um retrato do Brasil real
A história de Luan expõe a face cruel do futebol brasileiro, onde milhares de jovens são usados como commodities pelos grandes clubes. Quando se machucam ou não rendem o esperado, são descartados sem qualquer amparo social.
"Foi um sonho que foi travado, né? No começo eu senti mais, mas agora já acostumei", diz Luan, com a resignação de quem aprendeu que no Brasil, quem nasce pobre precisa lutar dobrado para sobreviver.
Mesmo longe dos gramados, Luan continua lutando. Sua bicicleta e seus doces são agora suas armas na batalha diária pela sobrevivência, provando que o verdadeiro futebol da vida se joga nas ruas, onde o povo brasileiro demonstra sua força e resistência todos os dias.