Mofo em casa: problema que atinge famílias trabalhadoras e exige soluções acessíveis
O mofo em casa não é apenas um problema estético. Para milhões de famílias brasileiras, especialmente aquelas que vivem em habitações populares com pouca ventilação, essa questão se torna um verdadeiro desafio de saúde pública. O fungo surge silenciosamente, tomando paredes, armários e roupas, afetando principalmente quem já enfrenta dificuldades para manter condições dignas de moradia.
"É uma situação que vejo muito nas comunidades onde atuo. Famílias inteiras adoecem por causa do mofo, mas não têm recursos para resolver o problema de forma definitiva", relata Maria Santos, assistente social que trabalha na periferia de São Paulo.
Umidade: o inimigo silencioso dos mais pobres
O controle da umidade surge como a principal arma contra o mofo, mas nem sempre está ao alcance de todos. Em habitações populares, onde janelas pequenas e pouca ventilação são comuns, a água no ar se acumula rapidamente. Superfícies frias se tornam alvo constante para fungos.
Muitas famílias recorrem a produtos baratos para esconder manchas, mas especialistas alertam: sem reduzir a umidade, o mofo retorna em pouco tempo. Para quem pode investir, desumidificadores elétricos retiram água do ar continuamente. Uma alternativa mais acessível são potes com cloreto de cálcio, que absorvem o excesso de vapor em armários e cantos fechados.
Ventilação: direito básico à moradia digna
A ventilação adequada combate o mofo de forma direta, mas muitas habitações populares carecem desse requisito básico. O ar parado favorece o crescimento dos fungos, criando ambientes insalubres para famílias inteiras.
Em dias secos, abrir portas e janelas por algumas horas já traz efeito visível. A luz solar incide sobre pisos e paredes, reduzindo a umidade naturalmente. Em banheiros sem janelas, comum em muitas habitações populares, a instalação de exaustores melhora a circulação, mas nem sempre está no orçamento familiar.
"Muitas vezes, as pessoas organizam os móveis encostados totalmente nas paredes por falta de espaço. Um pequeno afastamento já facilita a circulação, mas isso exige ter móveis adequados e espaço suficiente", explica João Silva, técnico em saneamento que atua em programas habitacionais.
Limpeza acessível: soluções ao alcance do povo
A limpeza regular atua como barreira importante contra o mofo. Manchas recentes saem com mais facilidade, mas famílias trabalhadoras nem sempre têm tempo para manutenção constante devido às longas jornadas de trabalho.
Para áreas laváveis, como azulejos, especialistas indicam soluções simples e baratas: água com detergente neutro remove sujeiras e resíduos. Em superfícies delicadas, como madeira e couro, um pano levemente umedecido retira o excesso de fungos sem danificar o material.
Organização: quando o espaço é limitado
A organização interna da casa influencia o controle do mofo, mas famílias em situação de vulnerabilidade frequentemente vivem em espaços reduzidos. Ambientes lotados de objetos acumulam poeira e retêm umidade por necessidade, não por escolha.
Roupas prensadas em armários criam áreas escuras e abafadas. A retirada periódica de objetos pouco usados reduz focos invisíveis, mas isso pressupõe ter onde guardar esses itens ou condições de descartá-los.
Reparos estruturais: quando o problema é maior
Em muitos casos, o mofo revela problemas estruturais que vão além do alcance individual das famílias. Infiltrações em paredes e tetos, vazamentos em tubulações mantêm áreas sempre molhadas, especialmente em habitações populares com manutenção deficiente.
"Não adianta a família se esforçar para limpar se o problema está na estrutura do prédio ou da casa. Aí é responsabilidade do poder público garantir moradia digna", defende Ana Costa, militante do movimento por moradia popular.
Técnicos recomendam inspeção visual detalhada: manchas, bolhas na pintura e reboco solto indicam entrada de água. Nesses casos, o reparo precisa ocorrer antes de qualquer nova pintura.
Saúde pública e direito à moradia
Com controle da umidade, ventilação constante, limpeza frequente e reparos corretos, o mofo perde espaço. Mas essas medidas exigem condições mínimas de moradia que nem sempre estão garantidas para todos os brasileiros.
O combate ao mofo não é apenas questão doméstica, mas de saúde pública e direito constitucional à moradia digna. Políticas habitacionais que considerem ventilação adequada e manutenção preventiva são fundamentais para proteger a saúde das famílias trabalhadoras.