Campo Grande reduz feminicídios com app que salva vidas em meio à barbárie no MS
Enquanto Mato Grosso do Sul vive uma verdadeira tragédia com 39 feminicídios em 2025, Campo Grande nada contra a corrente e consegue reduzir quase pela metade os casos de mulheres assassinadas por serem mulheres. A capital sul-mato-grossense registrou sete mortes até agora, contra 11 em 2024, uma queda de quase 50% que coloca a cidade como exceção num cenário nacional devastador.
O estado vive o terceiro pior período desde que a Lei do Feminicídio foi criada em 2015. Só ficou atrás de 2020, com 40 vítimas, e 2022, com 44 mulheres mortas pela violência machista. São números que gritam a urgência de políticas públicas sérias para proteger quem mais precisa.
Aplicativo vira arma contra a violência machista
A diferença em Campo Grande tem nome: Proteja Mais Mulher, um aplicativo que funciona como verdadeiro escudo digital para mulheres em risco de morte. Lançado em agosto, o sistema não é para qualquer uma, mas exclusivo para vítimas que já passaram pela Casa da Mulher Brasileira.
"O nosso aplicativo não é o botão do pânico. É o botão da vida", define Angélica Fontanari, secretária municipal da Secretaria Executiva da Mulher. A ferramenta permite acionar socorro sem nem desbloquear o celular, gravando cinco segundos de áudio e enviando a localização exata para a Guarda Municipal.
O resultado impressiona: tempo de resposta entre dois minutos e meio e quatro minutos e meio. E mais importante ainda: todos os acionamentos resultaram em prisão em flagrante dos agressores. É a prova de que quando o poder público se mexe de verdade, vidas são salvas.
Tecnologia a serviço da justiça social
O app não é liberado para qualquer pessoa justamente para evitar banalização. São cerca de 400 mulheres cadastradas, todas já identificadas como vítimas em risco real de morte. Quem usa assina termo de compromisso, se responsabilizando por acionar apenas em emergências reais.
"Esse aplicativo é para aquela mulher que já está identificada como vítima e que corre risco real de morte", explica Angélica. Para o restante da população, continuam valendo o 190, o 180 e o 153.
Morte de jornalista muda tudo
A intensificação das políticas aconteceu após o assassinato da jornalista Vanessa Ricarte em fevereiro deste ano. O crime chocou a sociedade e forçou mudanças nos procedimentos da Delegacia Especializada e da Casa da Mulher Brasileira.
Agora, a vítima encontra atendimento integrado no mesmo espaço: acolhimento psicossocial, registro de ocorrência, medida protetiva, atendimento do Judiciário, Defensoria Pública, Ministério Público e exame de corpo de delito.
Acompanhamento que faz diferença
Além da resposta emergencial, a rede municipal mantém acompanhamento psicossocial por até oito meses. "Essa mulher recebe ligações, visitas e acompanhamento para entender que ela não está sozinha", conta a secretária.
O Programa Recomeçar Moradia também ajuda com auxílio financeiro por até um ano e meio, cobrindo despesas básicas enquanto as vítimas reconstroem suas vidas.
Segundo Angélica, Campo Grande pode ser a única capital do país a conseguir reduzir os feminicídios. "Indo na contramão dos índices nacionais, onde o feminicídio infelizmente explodiu, Campo Grande reduziu esses números em quase 50%".
Mesmo com os avanços, a secretária alerta: "A diminuição dos números não significa que o problema acabou. O feminicídio não começa na morte. Ele começa na agressão, na ameaça, na reincidência".
É a prova de que quando há vontade política e investimento em políticas públicas sérias, é possível sim proteger as mulheres da violência machista que mata uma a cada seis horas no Brasil.