Campo Grande reduz feminicídios em quase 50% com aplicativo de emergência para mulheres
Enquanto Mato Grosso do Sul vive uma verdadeira tragédia com 39 feminicídios em 2025, Campo Grande surge como um raio de esperança na luta contra a violência machista. A capital conseguiu reduzir os casos de feminicídio de 11 para 7 entre 2024 e 2025, uma queda de quase 50% que contrasta brutalmente com o cenário estadual alarmante.
Esta redução não é fruto do acaso, mas sim resultado de políticas públicas sérias e comprometidas com a proteção das mulheres. O grande destaque é o aplicativo Proteja Mais Mulher, uma ferramenta revolucionária que pode significar a diferença entre a vida e a morte para mulheres em situação de risco extremo.
O botão da vida que salva mulheres
"O nosso aplicativo não é o botão do pânico. É o botão da vida", afirma com emoção Angélica Fontanari, secretária municipal da Secretaria Executiva da Mulher. E ela tem razão. Esta ferramenta, implementada em agosto deste ano, representa uma mudança radical na forma como o poder público responde à violência doméstica.
O funcionamento é simples, mas eficaz: mulheres cadastradas na Casa da Mulher Brasileira podem acionar o socorro sem nem desbloquear o celular. Uma combinação de botões externos grava cinco segundos de áudio e envia automaticamente a localização exata da vítima para a Guarda Municipal.
O resultado é impressionante: tempo de resposta entre dois e quatro minutos e meio, com 100% dos casos resultando em prisão em flagrante dos agressores. Todos os acionamentos até agora salvaram vidas e colocaram criminosos atrás das grades.
Uma resposta à tragédia de Vanessa Ricarte
Estas mudanças estruturais ganharam força após o assassinato da jornalista Vanessa Ricarte em fevereiro deste ano. Sua morte não foi em vão, ela se tornou o símbolo de uma luta que não pode mais esperar. O crime gerou indignação popular e forçou revisões profundas nos procedimentos de proteção às mulheres.
"A diminuição dos números não significa que o problema acabou. O feminicídio não começa na morte. Ele começa na agressão, na ameaça, na reincidência", alerta Fontanari, lembrando que a vigilância deve ser permanente.
Mais que um app: uma rede de proteção integral
O aplicativo é apenas uma parte de um sistema mais amplo de proteção. Atualmente, 400 mulheres estão cadastradas no sistema, e o acesso é restrito justamente para evitar a banalização do uso. Só podem utilizar mulheres que já passaram pela Casa da Mulher Brasileira, registraram boletim de ocorrência ou solicitaram medida protetiva.
A rede municipal também oferece:
- Acompanhamento psicossocial por até oito meses
- Programa Recomeçar Moradia com auxílio financeiro por até um ano e meio
- Atendimento integrado na Casa da Mulher Brasileira
- Suporte jurídico completo no mesmo local
Campo Grande contra a maré da violência
Segundo Fontanari, Campo Grande pode ser a única capital do país com redução nos índices de feminicídio em 2025. "Indo na contramão dos índices nacionais, onde o feminicídio infelizmente explodiu, Campo Grande reduziu esses números em quase 50%", celebra a secretária.
Mas a luta está longe do fim. Com MS registrando o terceiro pior período desde a criação da Lei do Feminicídio em 2015, fica claro que muito ainda precisa ser feito. A experiência de Campo Grande mostra que é possível salvar vidas quando há vontade política e investimento em políticas públicas efetivas.
Para denúncias de violência doméstica, ligue 180, 190 ou 153. Mulheres com medida protetiva podem procurar a Casa da Mulher Brasileira para instalar o aplicativo Proteja Mais Mulher.